Covid19

Nesse espaço vamos publicar material sobre como a COVID-19 se relaciona com o setor de ar condicionado

Entrevista com prof. Maurício Nath Lopes – IFSC

Entrevista com Engenheiro projetista de ar condicionado Rogers Rogério Farias

Entrevista com Técnico projetista Rafael Abreu

Entrevista com Engenheiro Ricardo Cherem 

Entrevista com Engenheiro Emiliano Rocha

Entrevista com prof. Marcelo Luiz Pereira – IFSC – Padrão de movimentação do ar

Live gravada com prof. Vinícius de Lucca – Ar condicionado e a COVID-19

De 1950 até o início da década de 1990 o ar condicionado de janela foi predominante no uso residencial. Bastava um corte na parede, um dreno e um ponto de energia. Alguns aparelhos tinham a possibilidade de captação de parcela pequena de ar externo como renovação. Mas em sua maior parte esses aparelhos não favoreciam a renovação de ar.

Figura 1-  Instalação de equipamentos de ar condicionado de janela.

Figura 2-  Vista superior de ar condicionado de janela

Uma opção aos aparelhos de ar condicionado de janela eram os sistemas de climatização central. Em uma casa de máquinas (sala limpa) era instalado um único equipamento chamado de self-contained ou splitão dutado.  O ar de renovação é capturado por uma tomada de ar externo com um filtro. Na Figura, tem-se uma rede de distribuição de ar com o respectivo retorno.

 

Figura 3- Exemplo de sistema de ar condicionado central com rede de distribuição de ar e dutos de retorno

Na casa de máquinas o ar de retorno que está à temperatura ambiente se mistura com o ar externo que é captado por uma tomada de ar externo com filtro. Esse ar de mistura é succionada pelo equipamento de climatização e é resfriado e desumidificado para ser insuflado no ambiente pelos dutos de distribuição e difusores.

Figura 4- Ilustração de uma casa de máquinas.

Recentemente a maioria de instalações desse tipo passaram a ser realizadas com equipamentos splits ou com VRF (diversas evaporadoras e uma condensadora). Mas na maioria dos casos esses equipamentos são instalados sem preocupação com a renovação do ar.

Segundo a ABRAVA, aproximadamente, 90% dos sistemas de climatização utilizados na atualidade são do tipo split e VRF.

 

Figura 5-  Sistemas splits (divididos)

Para um escritório pequeno é possível a instalação de um pequeno ventilador para insuflamento de uma taxa regular de ar externo para dentro do ambiente. Esse ventilador pode ser acionado por um dispositivo que mede a concentração de CO2 que deve ser mantido na concentração máxima de 1000 ppm. A preocupação com a exaustão deve ser prevista no projeto.

 

Figura 6 –  Pequeno ventilador para insuflamento de ar externo.

 

Para vazões maiores é necessário o uso de uma caixa de ventilação de ar externo que tem em seu interior um filtro e ventilador providenciando uma taxa de renovação de ar adequada ao ambiente.

Vamos supor que nos escritórios mostrados abaixo trabalham 20 pessoas. Nesse caso será necessário suprir uma vazão mínima de 540m³/h de ar externo (20 x 27 = 540 conforme a Portaria 3253/98) . Na solução da esquerda tem uma instalação convencional com splits utilizada por muitos estabelecimentos, sem renovação de ar. Na Figura da direita tem-se a utilização de um ventilador insuflando uma taxa de ar de renovação para os ambientes por meio de um duto.

Figura 7 – Sistema de climatização utilizando splits, sem e com renovação de ar.

 

Figura 8 – Adição de vazão de ar externo por rede de dutos e splits.

A adoção de taxa de ar de renovação mínima é obrigatória de acordo com a legislação vigente.

A portaria 3523/98 do Ministério da Saúde determinou uma taxa de 27 metros cúbicos por hora por pessoa de ar de renovação. Isso significa que a cada hora um ocupante de um auditório deve receber no mínimo um cubo de 3m x 3m x 3m de ar externo limpo, resfriado e desumidificado.  Recentemente foi aprovada a Lei 13.589/2008 que estabeleceu que todos os equipamentos de climatização precisam de manutenção periódica.

Figura 9 – Cubo representando volume de ar de renovação necessário em uma hora por pessoa no ambiente climatizado.

No início de junho de 2020 foi publicada a NBR 16924, que trata especificamente das medidas para prevenção e controle da contaminação pela Legionella – bactéria encontrada nos aerossóis das torres de arrefecimento e causadora de graves problemas respiratórios. Essa foi a bactéria que causou a morte do ministro Sérgio Mota no ano de 1998 e que suscitou a publicação da portaria 3523/98 pelo então ministro da Saúde José Serra. Legionelose é uma infecção potencialmente fatal causada pela bactéria Legionella que podem contaminar e se desenvolver em sistemas de água. A área de climatização também segue a Resolução 09/2003 da ANVISA e a Norma ABNT 16401/2008.

Nos Estados Unidos da América há a exigência de suplemento de ar externo de renovação para sistemas de climatização (DOAS). Na figura tem-se que o ar de retorno passa por um recuperador de calor (ERV) onde não há contato físico com o ar externo. Esse processo possibilita o arrefecimento da temperatura do ar externo de renovação antes de ser insuflado no ambiente.

Figura 10 – Utilização de recuperador de calor e de vazão de ar externo para ambiente com VRF.

Na sequência tem outra solução muito utilizada em sistemas VRF para suplemento do ar externo de renovação. O sistema de climatização VRF (Fluxo de Gás Refrigerante Variável) é um sistema de ar condicionado central, do tipo Multi Split, que funciona com uma única condensadora (unidade externa) ligada a varias evaporadoras (unidades internas) através de um ciclo único de refrigeração, com sistema de expansão direta onde o fluxo de fluido refrigerante no interior das tubulações é variável.


Figura 11 – Integração de sistema de ventilação e resfriamento de ar externo e sistema VRF.

 

A preocupação com a renovação de ar externo como forma de diluição dos contaminantes internos  se faz presente porque uma pessoa contaminada ao espirrar pode liberar mais de 30 mil gotículas de diâmetro, em sua maioria, de 1 a 10 micrometros. Na tosse e falando também são liberadas centenas de gotículas sem que tenhamos consciência disso. As gotículas menores de 3 micrometros podem ficar em suspensão no ar por algumas horas. Mesmo que uma pessoa seja assintomática ela pode espalhar o vírus no ambiente.

Dentro de cada gotícula podem estar presentes dezenas de coronavírus, que tem diâmetro estimado em 0,1 micrometros.

 

Figura 12- Comparação do diâmetro do coronavírus com partículas em suspensão no ar.

Observem que em um espirro as gotículas de diâmetro maior que 10 micrometros acabam caindo a uma distância de, aproximadamente 2m. Alguns estudos apontam que o vírus pode ficar vivo sobre superfícies por até três dias.  Por isso a importância da desinfecção.

 

Figura 13- Um espirro pode conter mais de 30 mil partículas.

Figura 14- Fotografias publicadas por Lydia Bourouiba

Compreender com exatidão o deslocamento e a dispersão dessas nuvens é fundamental para conter a disseminação de doenças respiratórias infecciosas, como a covid-19. Fonte: Lydia Bourouiba.

As partículas menores podem ficar em suspensão no ar por, aproximadamente, 2 a 3 horas.

Figura 15- Tempo de permanência no ar de aerossóis.

A ASHRAE publicou um estudo mostrando as principais formas de contaminação pelo coronavírus e apresentando algumas recomendações técnicas. A ABRAVA e a REHVA também agiram nesse sentido.

Além do contágio direto ao se tocar em superfícies contaminadas e levar a mão ao nariz, há a possibilidade de que uma pessoa possa ser contaminada pelo ar, quando está próxima a outra pessoa. Por isso tem-se falado tanto na necessidade de evitar aglomerações.

O espalhamento do coronavírus pelo ar condicionado ainda não foi confirmado. O que se sabe são as formas de contaminação mostrada nas figuras.

Figura 16- Formas de contágio

 

Figura 17- Formas de contágio.

A pergunta que muitos estão fazendo é se o ar condicionado pode ajudar a espalhar o coronavírus dentro de um ambiente. Um estudo realizado na China trouxe alguma apreensão para os profissionais da área. Na reportagem apresentada a seguir tem-se uma explicação da origem dessa preocupação.

 

 

Um estudo publicado na revista Emerging Infectious Diseases foi divulgado no site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

Os pesquisadores avaliaram como ocorreu o surto da Covid-19 entre três famílias que almoçaram em um restaurante da cidade de Guangzhou, na China. A provável fonte do vírus era uma mulher de 63 anos que não apresentava sintomas na época.

Ela e sua família viajaram de Wuhan para Guangzhou foram ao restaurante e sentaram-se em uma das mesas localizadas na linha de insuflamento de um aparelho splits.  Nove pessoas que estavam sentadas nas mesas próximas ficaram doentes. Os pesquisadores concluíram que o ar-condicionado espalhou as gotículas da mulher contaminada mais longe, pulverizando o vírus sobre as demais pessoas.

“A importância do fluxo do ar-condicionado na contaminação desses 10 pacientes em Guangzhou também foi pesquisada e apresentada em outro estudo recente, dessa vez por pesquisadores da Universidade de Hong Kong, em colaboração com especialistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Guangdong. Em ambos os casos foi confirmada a influência direta do ar-condicionado na propagação do vírus” Fonte: Direto da ciência

Figura 18- Restaurante chinês.

Figura 19- Insuflamento do split no restaurante chinês.

Quando soube dessa pesquisa procurei saber mais informações sobre o assunto. Procurei ler algumas dissertações e teses sobre qualidade do ar interior como as dos prof. Marcelo Luiz Pereira e Rogério Vilain.  Prof. Marcelo Luiz Pereira gravou alguns vídeos alertando sobre o assunto. Mas como ele bem ressaltou é preciso entender que o ar condicionado é uma solução, não um problema. Se temos um bom projeto, uma boa instalação e uma manutenção eficiente o ar condicionado pode contribuir para reduzir o risco de contaminação. Em hospitais, por exemplo, o padrão de insuflamento possibilita que o ar contaminado seja eliminado do ambiente sem contaminar outras pessoas.

 

 

Prof. Rogério Vilain realizou uma simulação numérica de como o jato de ar insuflado percorre o ambiente climatizado até ser succionado pelo equipamento.

O que pode se perceber é que as correntes internas de convecção podem espalhar os contaminantes dentro de um ambiente. O split tem uma tela de proteção para retenção de partículas mais grosseiras. Apesar de comumente essa tela ser chamada de filtro.

Figura 20- Simulação do jato de insuflamento de um split no ambiente de sala de aula.

REFERÊNCIAS

Tese de doutorado – Prof. Rogério Vilain

Tese de doutorado – Prof. Marcelo Luiz Pereira

http://www.diretodaciencia.com/2020/06/10/ar-condicionado-dos-onibus-e-vetor-para-o-coronavirus/

REHVA_Literature_COVID-19_guidance_document_ver2_20200403_01

ASHRAE-filtration_disinfection-c19-guidance 

ASHRAE – airborne transmission

ASHRAE position on infectious aerosols_2020

Lâmpadas UV pode realmente higienizar o ar condicionado?

Estudo sobre propagação de coronavírus em restaurante com split sem renovação

Fonte:  Viruses-in-Air

Apresentação da ASHRAE – COVID19

Prevenção da Legionella

https://www.ashrae.org/professional-development/all-instructor-led-training/online-instructor-led-training/hospital-hvac-infection-mitigation-comfort-performance

https://www.danfoss.com/pt-br/about-danfoss/news/dcs/stayhome-but-continue-learning/

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A seguir tem-se algumas perguntas e respostas sobre o assunto – as respostas tem por base material disponibilizado pela ABRAVA

1- Qual a influência do Ar Condicionado frente à atual pandemia de Coronavírus?

R.  Para responder essa pergunta ressaltamos que as principais associações do setor têm publicado diversas recomendações. O ar condicionado as vezes aparece como vilão quando acontece algum problema. Mas na verdade o problema na maioria das vezes é decorrente de mau projeto ou de má instalação ou de falta de manutenção. O carro é uma grande invenção humana, mas no Brasil morrem mais de 30 mil pessoas em acidentes. A falta de manutenção do veículo, a condição das estradas e erros humanos são as causas mais comuns.  O carro não é o problema.

Nesse momento há grande preocupação quanto a uma possível propagação do vírus por meio do ar condicionado. Uma pesquisa recente mostrou que é possível o vírus se espalhar no ambiente pelas forças de arrasto das correntes de ar de insuflamento.

No Brasil, a maioria dos equipamentos de climatização instalados em ambientes de pequeno e médio porte são do tipo split e VRF. Os splits em sua maioria são instalados sem renovação de ar. Se bem instalado o ar condicionado melhora a condição de conforto dos ocupantes. Ar condicionado significa produtividade e maior concentração. O erro de projeto e uma instalação inadequada  podem sim prejudicar a qualidade do ar interior.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FIGURA 20 – Sistemas de climatização modelo Split – multi-split VRF

Em hotéis e em diversas outras aplicações é comum a instalação de um ventilador para insuflamento de uma taxa regular de ar externo para dentro do ambiente. Esse ventilador pode ser acionado por um dispositivo que mede a concentração de CO2 do ambiente. A concentração de CO2 vinha sendo utilizado com bastante eficácia para determinação da qualidade do ar interno. Concentrações maiores que 1000 partes por milhão de partículas de CO2 reduzem o nível de concentração dos ocupantes de um ambiente.  O insuflamento de ar externo de renovação é uma solução para impedir que os níveis de CO2 ultrapassem os valores recomendados pela legislação.

 

FIGURA 21 – Sistema de ventilação para ambientes de pequeno porte.

Segundo a ABRAVA, se os equipamentos estiverem em boas condições de manutenção, com boa limpeza, filtros limpos e adequados, e a renovação do ar estiver sendo realizada conforme exigências legais e normativas, então o sistema de climatização poderá auxiliar a combater o surto de Coronavírus e outras moléstias transmissíveis pelo ar, justamente removendo partículas em suspensão.

2- Quais as principais medidas devem ser tomadas para a limpeza e uso do ar condicionado durante a pandemia?

R. Muitos estabelecimentos ficaram fechados por algumas semanas e alguns por alguns meses. É fundamental que no retorno seja realizada a limpeza e manutenção dos equipamentos de ar condicionado. Nas bandejas de condensado pode ter se formado fungos. Nos sistemas de grande porte a falta de manutenção pode levar a proliferação da bactéria Legionella. O decreto de reabertura expedido pelo governo do estado recomenda a não utilização do ar condicionado nesse período. O ideal é manter janelas e portas abertas nesse período. Caso seja necessário o uso dos equipamentos devemos ter a preocupação de diluir o ar interno que pode sofrer a contaminação pelo vírus.

A adoção de taxa de ar de renovação é previsão legal nas normas e legislação vigente. A portaria 3523/98 do Ministério da Saúde determinou uma taxa de 27 metros cúbicos por hora por pessoa de ar de renovação. Isso significa que a cada hora um ocupante de um auditório deve receber no mínimo um cubo de 3m x 3m x 3m de ar externo limpo, resfriado e desumidificado.  Recentemente foi aprovada a Lei 13.589/2008 que estabeleceu que todos os equipamentos de climatização precisam de manutenção periódica. No início d e junho de 2020 foi publicada a NBR 16924, que trata especificamente das medidas para prevenção e controle da contaminação pela Legionella – bactéria encontrada nos aerossóis das torres de arrefecimento e causadora de graves problemas respiratórios. Essa foi a bactéria que causou a morte do ministro Sérgio Mota no ano de 1998 e que suscitou a publicação da portaria 3523/98 pelo então ministro da Saúde José Serra. Legionelose é uma infecção potencialmente fatal causada pela bactéria Legionella que podem contaminar e se desenvolver em sistemas de água. A área de climatização também segue a Resolução 09/2003 da ANVISA e a Norma ABNT 16401/2008.

Sistemas de grande porte geralmente têm profissionais trabalhando em tempo integral na manutenção preventiva e corretiva. Em shoppings localizados em regiões úmidas o desligamento do ar condicionado por um período de semanas pode levar a formação de bolor nos produtos.

Estabelecimentos de pequeno porte geralmente têm contratos de manutenção por chamados ou por períodos pré-determinados.  O problema é quando o estabelecimento não tem contrato nenhum de manutenção. Normalmente recomendamos que durante o inverno sejam realizadas ações de higienização dos aparelhos.

O que determina se já é o momento de trocar os filtros (telas) do ar-condicionado é a forma como o aparelho é utilizado, ou seja, o tipo de local onde ele está instalado, a poluição e a quantidade de pessoas e de animais a que ele está exposto. Em residências e apartamentos onde não se tem nível elevado de contaminação é possível limpar o filtro (tela) a cada seis meses. Na Figura tem-se a situação da tela tomada pela poeira. Essa sujeira aumenta a perda de carga, reduz a troca de calor e exige mais potência do rotor do ventilador para insuflar o ar, o que acaba aumentando o consumo do equipamento.

FIGURA 22

3- Quais os princípios básicos para garantia da qualidade do ar interno em ambientes climatizados?

R. Essa pergunta não é específica para esse momento. O principal fator que deve ser atentado é a taxa de renovação de ar exterior. Para ambientes  climatizados é preciso a garantia de 27 metros cúbicos por hora por pessoa. Para sala de aulas também é comum se especificar que são necessárias 5 trocas de ar por hora. Vamos supor que uma sala tenha dimensões de 10m de largura por 5m de comprimento por 3m de altura. O volume da sala é calculado por 10 x 5 x 3 = 150m³. Nesse caso a taxa de ar externo de renovação deve ser de no mínimo 5 x 150 = 750 m³/h.  Observamos que para uma sala de aula com 30 alunos para atender à Portaria 3523/98 fazemos 30 x 27 que dá 810 metros cúbicos de ar por hora. Essa renovação deve ser providenciada por meio de um ventilador dedicado com sistema de filtragem, de forma independente ao processo de climatização. Esse ar externo vai adicionar umidade e calor que deverá ser considerado no cálculo da carga térmica do ambiente. Há pessoas que dimensionam a capacidade do aparelho como sendo de 600BTU/h por metro quadrado. Mas esse cálculo é antigo, do início da década de 90 quando não se considerava taxas de ar de renovação.

Além disso é preciso fazer limpeza periódica do filtro. O split não tem exatamente um filtro. Ele tem uma tela para reter partículas mais grosseiras. Sistemas com distribuição de ar central geralmente tem filtros finos que são capazes de reter partículas da ordem de 10 micrometros. O vírus pega carona nessas partículas e por isso é possível melhorar a condição do ar por meio da filtragem. Há recomendações de se ligar o equipamento duas horas antes da abertura do comércio para que o equipamento realize a filtragem do ar. As bandejas de condensado também devem ser objeto de preocupação.

Segundo a ABRAVA, quatro itens são determinantes para que se garanta a qualidade do ar a ser respirado: Vale ressaltar que o Ar Condicionado não tem a função de VACINA, tampouco de REMÉDIO, portanto, os sistemas de climatização não são a solução final para eliminar contaminações de quaisquer moléstias. Mas observando-se as condições abaixo, pode-se diminuir as chances de contaminação, apesar de não existirem estudos ou evidências científicas de sua eficácia. Renovação do Ar – ação que garante a ventilação de ar exterior para os ambientes internos, com a devida filtragem que visa diluir a concentração de poluentes nos ambientes internos, desta forma não permitindo excesso de concentração de impurezas, fator que pode provocar agravos à saúde dos ocupantes; Filtragem – ação que tem por objetivo reter partículas e micro gotículas, que podem carregar poluentes ou microrganismos como o COVID-19; Controle de temperatura e umidade – fatores de necessidade física que contribuem com a saúde das pessoas, assim como, também podem inibir a proliferação de determinados organismos como o COVID 19; Monitoramento da qualidade do ar – manter o nível de CO2 (dióxido de carbono) dentro dos índices determinados para ambientes é uma das formas de garantia da qualidade do ar respirados em ambientes.

4- O que aconteceu em um restaurante de Wuhan, que ilustra bem as relações ar condicionado e restaurantes?

Na verdade o restaurante fica em Guangzhou. Um estudo publicado na revista Emerging Infectious Diseases foi divulgado no site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

Os pesquisadores avaliaram como ocorreu o surto da Covid-19 entre três famílias que almoçaram em um restaurante da cidade de Guangzhou, na China. A provável fonte do vírus era uma mulher de 63 anos que não apresentava sintomas na época.

Ela e sua família viajaram de Wuhan para Guangzhou foram ao restaurante e sentaram-se em uma das mesas localizadas na linha de insuflamento de um aparelho splits.  Nove pessoas que estavam sentadas nas mesas próximas ficaram doentes. Os pesquisadores concluíram que o ar-condicionado espalhou as gotículas da mulher contaminada mais longe, pulverizando o vírus sobre as demais pessoas.

“A importância do fluxo do ar-condicionado na contaminação desses 10 pacientes em Guangzhou também foi pesquisada e apresentada em outro estudo recente, dessa vez por pesquisadores da Universidade de Hong Kong, em colaboração com especialistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Guangdong. Em ambos os casos foi confirmada a influência direta do ar-condicionado na propagação do vírus” Fonte: Direto da ciência

https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.04.16.20067728v1

FIGURA 23

FIGURA 24

5 -Manter janelas abertas ou desligar o ar-condicionado, ajuda no combate ao surto?

A abertura de portas e janelas ajuda na diluição e dispersão dos contaminantes internos. Vamos imaginar que uma pessoa tenha espirrado dentro de um restaurante. As gotículas maiores vão se depositar sobre as mesas e cadeiras. Mas partículas menores poderão ficar em suspensão. A abertura de portas e janelas cria fluxos de ar por ventilação cruzada. E isso pode levar o vírus para fora.

FIGURA 25

 

FIGURA 26

A associação européia de refrigeração e ar condicionado (REHVA)  recomenda que a velocidade de insuflamento seja a menor possível e que se mantenha janelas abertas. Haverá um gasto adicional de energia elétrica, que é irrisório se impedimos a propagação do vírus por falta de diluição. Os proprietários de sistemas splits podem instalar ventiladores para insuflamento de ar externo filtrado para dentro dos estabelecimentos dentro da taxas recomendas por lei.

Nesse momento o melhor é deixar mesmo janelas e portas abertas.  Se for mantido o distanciamento mínimo entre as mesas, controlada a temperatura de entrada dos clientes e realizada uma higienização a cada meia hora das mesas e cadeiras os riscos de contaminação são baixos.

Ao mesmo tempo em que pode haver maior renovação de ar próxima às janelas abertas, esta prática irá permitir que outros poluentes também entrem nestes ambientes, sobrecarregando os filtros e outros componentes do sistema de climatização caso estejam ligados. Para ambientes maiores, as áreas mais afastadas das janelas não terão a mesma renovação.

6 – Naqueles locais com ar condicionado central, como hotéis e shopping centers, o ar condicionado pode ser um aliado no combate ao covid?

R, Se forem tomadas providências para aumentar as taxas de ar de renovação e realizada a manutenção mais rigorosa do sistema sim. Nesse momento é importante reduzir o retorno do ar, que pode estar contaminado, e aumentar a diluição com ar externo. Os filtros devem ser trocados com maior frequência que o habitual.  E deve-se ligar o sistema pelo menos duas horas antes da abertura do estabelecimento para limpeza dos particulados em suspensão. Se reduzimos os aerossóis em suspensão, reduzimos os veículos onde o coronavírus pega carona no ar.

Na Figura a seguir representamos a lógica de climatização das lojas de um shopping onde os equipamentos FAN-COILS são responsáveis por climatizar as lojas. Para garantir a renovação de ar há uma rede de dutos que traz ar limpo e resfriado para misturar o ar interno das lojas (sala limpa à esquerda). O retorno de ar se dá pelos corredores. Dos corredores o ar de retorno segue para uma sala de mistura (desenho à direita) onde é filtrado e misturado com ar externo de renovação.

FIGURA 27

7 – Quais os tipos de manutenção/higienização previstos para aparelhos de ar-condicionados residenciais ou comercial leve como os mini-splits?

Segundo a ABRAVA a manutenção simples, para casas e apartamentos, que consiste na lavagem do filtro, de forma simples, sendo possível ser retirado do equipamento e lavado com água e sabão, dentro da periodicidade indicada no Manual do Fabricante. Recomenda-se o uso de luvas, óculos protetores e demais EPIs para cuidado no contato com filtros e demais componentes, que podem conter fungos ou outros microorganismos.

Já para a manutenção e limpeza de equipamento instalado em edificações de uso público e coletivo, a ABRAVA ressalta que existem determinações legais quanto à periodicidade de limpeza prevista em Lei (Resolução RE-09) e que deve ser realizada somente por profissional habilitado. Estas atividades visam manter os sistemas em boas condições de limpeza, otimizando o uso de energia, além de evitar disseminação de poluentes nos ambientes climatizados, contribuindo desta forma, para a melhor qualidade do ar interior e privilegiando a saúde e bem estar da população.

A limpeza da tela de proteção do aparelho é o mais fácil de se realizar. Qualquer pessoa pode fazer isso se tomar o devido cuidado. Mas um técnico é a pessoa mais adequada para realizar esse trabalho. O Gugu Liberato parece que caiu do forro na tentativa de limpar um filtro. O risco de queda de uma escada parece pequeno mas existe. A higienização do aparelho pode ser realizado com produtos vendidos no mercado, mas os técnicos fazem limpeza com aparelhos de alta pressão, que são capazes de limpar as serpentinas de fungos e bactérias.

FIGURA 28

 

8- Em tempos de coronavírus, no dia a dia dos escritórios alguma mudança do hábito de uso do ar condicionado deve ser feita?

R. Nossa primeira e principal recomendação, é sempre seguir as orientações e determinações das Autoridades Sanitárias.
A observação rigorosa das atividades previstas no PMOC – Plano de Manutenção, Operação e Controle, irá também contribuir de forma decisiva para a boa qualidade do ar de interiores, e assim também contribuir para diminuir as chances de disseminação de contaminação por micro organismos.

As recomendações são de que os estabelecimentos se ocupem melhor da manutenção dos equipamentos de climatização, realizem a abertura de janelas e portas e se preciso usar o aparelho que reduzam a velocidade de insuflamento. É preciso verificar se o PMOC está atualizado e avaliar a instalação de equipamentos para renovação de ar externo.

É importante fazer escala de trabalho sempre que possível e proteger colaboradores que estão em grupos de risco ou que tenham familiares em situação de risco.

O ideal é que os escritórios realizassem testes de covid-19 em larga escala pelo menos a cada quinze dias.  Escritórios onde trabalham muitas pessoas precisam adotar medidas preventivas para redução das chances de contágio.

 

FIGURA 29

9 – Algum cuidado especial para o ambiente que teve a circulação de uma pessoa infectada com o COVID 19?

R.  O problema começa pelo fato de que a maioria das pessoas contaminadas são assintomáticas. E podem propagar o vírus. É preciso considerar o risco sempre que uma pessoa adentra um estabelecimento. A limpeza e higienização de mesas e cadeiras é importante.

Para os ambientes que possam ter suspeita de contaminação, devem-se seguir as orientações das Autoridades Sanitárias.
A completa higienização do ambiente e equipamentos é altamente recomendável, além de desinfecção com produtos químicos adequados.

 

FIGURA 30

 

Observamos que podemos ter uma pessoa espirrando dentro de um ambiente com a ocorrência do espalhamento das gotículas de menor diâmetro por todo ambiente. Mesmo que o split possuísse um filtro fino, ainda assim não seria possível impedir que o vírus contaminasse outros alunos em seu caminho até a sucção do aparelho.

Na maioria dos casos onde se tem instalados sistemas splits, a abertura de janelas e das portas são as únicas possibilidades de entrada de ar externo.  Independente da existência de vírus a diluição de contaminantes internos é uma necessidade dos sistemas climatizados.  As pessoas liberam dióxido de carbono no processo de respiração. E em duas horas em uma sala de aula fechada os níveis máximos de CO2 são alcançados facilmente se não há a renovação de ar. O nível elevado de CO2 tem entre seus efeitos nos estudantes a perda de concentração e sonolência. Instalações bem projetadas possuem sensor de CO2 para controlar o fluxo de ar de renovação.

Na figura a seguir tem-se a simulação realizada por uma universidade da Finlândia que mostra o espalhamento das gotículas de um espirro dentro de um supermercado. Uma pessoa pode espirrar e as gotículas de menor diâmetro podem se espalhar por grandes distâncias dentro do ambiente, permanecendo no ar por algumas horas.

FIGURA 31

 

10- A A falta de manutenção em geral pode contribuir com a proliferação do covid?

Segundo a ABRAVA, quando as condições adequadas de higiene e operação são negligenciadas, o acúmulo de particulado e matéria orgânica também pode torná-lo um meio propício para crescimento de microrganismos, os quais poderão acarretar doenças aos usuários desses ambientes.

A falta de manutenção em sistemas de climatização pode oferecer riscos à saúde das pessoas, não somente pelo COVID 19, mas também por contaminações de outros agentes, tais como fungos e bactérias, além de excesso de pós e descontrole dos sistemas. A boa manutenção assegura que os sistemas de climatização operem de forma harmoniosa, produzindo ambientes confortáveis e proporcionando a preservação da saúde e bem estar das pessoas.

Os especialistas tem falado do aumento da taxa de ar externo, uso de filtros de melhor qualidade e troca mais frequente, controle da umidade relativa entre 40 a 70%, uso de lâmpadas UVC na face das serpentinas, manter o PMOC em dia, revisão dos dutos e equipamentos se eles ficarem parados.

Na verdade, em relação apenas ao Covid-19, o sistema de climatização não irá eliminar a presença do vírus no ambiente, apenas pelo seu sistema de filtragem ou pelo controle de umidade e temperatura. A menos que seja instalado um dispositivo de desinfecção contínua, o ar insuflado não será suficiente para conter a contaminação no ambiente.

Filtros sempre limpos e em bom estado, ajudam a reter partículas em suspensão, desta forma auxiliando a remover contaminantes. Entretanto, o sistema de climatização não pode ser encarado como medida profilática, apesar de não existir até o momento, estudos científicos que comprovem seu papel em cenário de pandemia viral.

O prof. Humberto Mota Filho, advogado especializado em Direito Empresarial e Compliance, presidente da Comissão da Transparência Pública da OAB RJ, ressalta a importância da integridade nas relações comerciais. Quando entramos em um ambiente não sabemos se estamos respirando um ar livre de contaminação. Devemos pressupor que o dono do estabelecimento pratica a ética da reciprocidade.

• Lei 13.589 – PMOC
• Portaria 3523/98
• RE-09/2003 – ANVISA
• Norma ABNT 16401
– NBR para prevenção da Legionella

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Algumas questões para reflexão: