O combate à evasão e a cultura de indicadores

Caros colegas, essa reflexão foi enviada para a atual Reitoria do IFSC em mensagem de 11 de outubro de 2012. Mas o assunto continua atual, mesmo com avanços obtidos como a criação da Diretoria de Estatísticas e Informações Acadêmicas.

Penso que todos devem ter a consciência de que o êxito dos estudantes é o foco do trabalho. Por isso, temos que ter ações efetivas e diretrizes que promovam o êxito estudantil. Sabemos que pequenas mudanças de curso hoje podem trazer grandes resultados futuros. Mas para isso é preciso compreender que o estudante não é um ser intangível e abstrato. O aluno é um ser humano e precisa ser compreendido não como um número de matrícula. Mas como um sujeito do processo de ensino aprendizagem. Se o que fazemos na gestão não atinge o estudante não tem sentido nosso trabalho.

Entendo que sem indicadores precisos não há condição plena de se saber se os estudantes estão aprendendo, se estão tendo sucesso. Observo que não somos eficientes a ponto de analisar os indicadores de ingresso e disponibiliza-los na forma de conhecimento efetivo para os docentes.

No inicio do curso o docente deveria saber exatamente qual é a condição do aluno. Para planejar de acordo com a real necessidade. O diagnóstico que tenho realizado no primeiro dia de aula deveria ser mais objetivo e institucional. Não sabemos se os alunos estão aprendendo e se estão motivados. Não sabemos porque eles desistem. Não sabemos se eles são bem sucedidos quando deixam a instituição. Não há rastreabilidade.

Não podemos controlar todas as variáveis que levam à evasão. Mas se sabemos que os alunos estão evadindo por falta de transporte municipal ou linhas de ônibus ou falta de segurança podemos fazer mediação junto aos órgãos públicos. Mas pouco podemos fazer quando o estudante se vê obrigado a evadir porque houve alteração de seu horário de trabalho ou se vê obrigado a resolver problemas particulares que não nos dizem respeito.  Muitas vezes o aluno não vai nos informar o motivo e precisamos entender isso.

Mas há um parte da evasão que está relacionada com questões pedagógicas e gestão escolar ineficiente: plano de ensino que não considera as condições iniciais e histórico dos estudantes, horários de aula incompatíveis com a mobilidade urbana, didática inadequada dos docentes, laboratórios desatualizados, carga de trabalhos excessiva entre outras.

O problema da evasão já inicia no momento de abertura dos cursos. Porque a empregabilidade também influencia a motivação para a permanência. Se os cursos são abertos sem conhecimento das demandas regionais é possível que se atirem vagas ao vento, como sementes. Poucas poderão germinar porque nem todas encontrarão solo fértil.

Há instituições que se relacionam tão bem com a sociedade e que planejam suas vagas considerando a taxa de crescimento demográfico e econômico da região. Se para os próximos 4 anos há previsão de necessidade de 400 profissionais na area de enfermagem não há sentido em se oferecer 2000 vagas no período.  Provavelmente deixaremos de ofertar vagas em outras áreas.

Se sabemos as notas dos estudantes quando ele ingressa na instituição podemos pensar cursos prévios de recuperação de conteúdos ou de empoderamento. Nossos regulamentos dizem que somos inclusivos, mas no entanto nem sempre apoiamos aqueles estudantes que possuem mais dificuldades. Eles são os primeiros a evadirem possivelmente.

Quando perguntamos o número de estudantes de nossos campi temos respostas que deixam margem à dúvidas. Nossos sistemas são “alimentados” nem sempre a partir das mesmas referências. Muitas vezes precisamos capacitar melhor e dar mais condições de trabalho para os profissionais de registros acadêmicos: aqueles que têm a chave do dinheiro dos institutos, segundo o Gustavo.

Os sistemas gerenciais trazem informações diferentes das enviadas pelos campi. Mas aluno não é intangivel. Como vamos melhorar o processo de ensino-aprendizagem se não conseguimos nem ao menos calcular quantos estudantes temos no início do semestre, quantos estão frequentando efetivamente as aulas e quais são nossos percentuais de evasão, de trancamento, de permanência, de aprendizado. Fizemos o censo interno porque paramos de acreditar em 3 ou 4 números apresentados diferentes. Aluno é um ser humano e precisa ser acompanhado e desenvolvido na plenitude. Sem conhecê-lo em profundidade não há educação efetiva.

Penso que os Diretores dos campi devem ter uma coleção de indicadores em suas paredes. A DTIC utiliza aquelas telas de monitoramento de servidores de rede. Os Diretores deveriam agir da mesma forma. Eles deveriam acompanhar semanalmente os principais indicadores de seus campi. E quais seriam estes? Para começar deveria saber o número real de estudantes que estão frequentando as aulas em cada turma. Deveria saber se há diferenças de evasão entre as fases dos cursos e entre os turnos. Se os estudantes estão necessitando de apoio psicológico, monitoria, assistência estudantil por exemplo. Se há disciplinas que reprovam mais que outras, se há professores cujas taxas de reprovação destoam do conjunto. Os Diretores devem também saber o número de aulas de cada professor para poder planejar atividades com a carga horária excedente. Se um docente ministra 10 aulas por semana ele tem um espaço ocioso de 10 aulas por semana onde poderia ofertar cursos de formação inicial e continuada para a comunidade e também para os próprios servidores.

Entendo que a hora de um docente custa ao estado brasileiro aproximadamente 75 reais. Considerando que um docente dos institutos ministra em média 20 aulas por semana e ganha um salário médio de 6 mil reais. Se há 10 horas ociosas então o desperdicio mensal é de 750 reais. No ano são quase 10 mil reais perdidos. Um aluno custa aproximadamente 12.000 reais por ano. Se uma turma deveria ter 32 alunos e com a evasão fica com 20 há um desperdício de 12.000 reais por mês. No ano serão 14 mil reais de recursos aplicados ao vazio.  Cada carteira vazia em uma sala de aula e cada hora aula ociosa significam recursos públicos mal aplicados. Vamos pensar em uma torneira aberta jorrando água sem necessidade.

Mas sem indicadores claros e que sejam de fácil compreensão não há como acompanhar em tempo real o que acontece em sala de aula. O cockpit de um avião é cheio de indicadores que são fundamentais no voo. Sem indicadores, tendências e séries históricas o que fazemos em gestão são achismos.

Com dezenas de campi e milhares de alunos não é mais possível atuar de forma amadora. Precisamos modificar nossa postura e planejar ações efetivas de curto, médio e longo prazo para aumentarmos nosso grau de acompanhamento do processo pedagógico. Se sabemos efetivamente o que está dando certo, vamos manter. Se sabemos o que está dando errado vamos corrigir.

Um exemplo: pagamos centenas de bolsas de auxilio ao estudante. Perfeito, mas perguntamos se há uma correlação entre o desempenho dos alunos que recebem auxilio e não recebem?  Compreendemos que no mínimo estamos garantindo distribuição de renda. Mas não temos segurança se a maioria dos estudantes que recebem o benefício realmente precisam. Ouvimos diversas casos de recebimento indevido.

Como os docentes planejam suas aulas se não conhecem informações precisas dos estudantes que recebe em cada turma. Seria muito importante o docente conhecer o histórico de cada estudante desde nota de ingresso, assuntos em que ele mais teve dificuldades até o momento para planejar as aulas de forma a facilitar o processo de compreensão dos conteúdos.

Não basta saber que ele foi aprovado ou não. Cada aluno deveria ter uma ficha completa como um prontuário médico onde é possível perceber relação entre causa e efeito da medicação dada anteriormente.

Cada professor acaba fazendo suas experiências sem muitas vezes conversar com o professor anterior detalhes sobre o desempenho dos alunos.

Depois de formados os estudantes muitas vezes não são acompanhados de forma efetiva. Como saber se os conhecimentos ensinados foram relevantes para a formação dos estudantes?
Nos EUA os alunos são submetidos a cada 5 anos a exames parecidos com o da OAB em cada estado. Esses indicadores de desempenho são recebidos pelos Colleges.

Com a introdução de diários eletrônicos e controles de acesso podemos ter em tempo real informações sobre a presença dos estudantes. Se os docentes alimentarem o sistema com informações parciais sobre o desempenho dos estudantes será possível pensar estratégias de recuperação, monitoria e tutoria antes de uma possível reprovação e evasão. Se os alunos entram com notas muito baixas nos exames então cursos introdutórios de empoderamento são essenciais.

Esse texto introdutório foi reescrito posteriormente para o LIVRO LIDERANÇA ÉTICA E SERVIDORA.

Atenciosamente,

Prof. Jesué Graciliano da Silva

Deixe um comentário