Fazendo a diferença no mundo

Caros colegas, nessa semana assisti uma recente entrevista conduzida por David Letterman. O entrevistado é ninguém menos que Barack Obama, que falou sobre liderança.

“Parte da capacidade de liderar um país não tem a ver com legislação ou regulamentação e sim com moldar atitudes, moldar cultura, conscientizar”.

Uma liderança é também um símbolo capaz de inspirar outras pessoas para a ação. E nesse sentido Barack Obama e sua esposa Michelle são bons exemplos, mesmo com suas contradições.

Obama também comentou um pouco sobre a influência das fake news para as democracias. “Os algorítimos reforçam as tendências e percepções das pessoas. Muitas vezes isso impede o exercício da empatia”.

Em sua visita ao Brasil em 5 de outubro de 2017, Obama já havia comentado sobre esse tema:

“O mundo está mais conectado do que nunca, mas da mesma maneira que a internet permite espalhar conhecimento e oportunidades, dá poder àqueles que espalham ódio e morte…. no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, em todos os lugares, nós vemos a internet contribuindo para dividir nossa política…. Em alguns casos, é mais fácil escutar pessoas que pensam da mesma maneira que nós.  E nunca desafiamos nossas presunções, porque tudo o que lemos, tudo o que vemos é simplesmente o que um algoritmo nos disse que deveríamos ver”.

Não gosto do culto às personalidades. E sei que há uma refinada estratégia de marketing político em cada ação do ex-presidente.  Imagino que Michelle Obama deve ser lançada como pré-candidata a presidência dos Estados Unidos em breve. Aliás, penso que ela seria uma grande presidente e uma liderança para o mundo.

Mas a entrevista possibilita uma interessante reflexão sobre a possibilidade que cada ser humano tem de fazer a diferença, mesmo superando obstáculos quase intransponíveis. “Se não podemos mudar o mundo todo, podemos mudar o mundo a nossa volta. Podemos ser e fazer a diferença.”

No final de seu governo, Barack Obama refletiu sobre como poderia impactar na formação das futuras gerações de líderes. Ele já havia conversado com centenas de jovens extraordinários durante suas viagens como presidente. Por meio de sua Fundação tem procurado sistematizar a ação de jovens líderes ao redor do mundo. Ele esteve recentemente no Brasil conversando sobre o assunto.

“Há tantos jovens que querem se envolver, mas não sabem como ou não têm a coragem de John Lewis, mas que talvez, sendo incentivados, participassem. Nem todos vão marchar ou entrar para a política. Podem ser voluntários na comunidade local para ajudar. Podem encorajar os amigos e vizinhos a aprender sobre as questões e votar”.

Obama também conversou sobre o poder do acaso em sua vida. “Muitas pessoas atribuem seu sucesso a uma suposta superioridade intelectual. Eu digo que trabalhei duro e tenho algum talento. Mas há tanta gente talentosa trabalhando duro por aí… Houve um toque de sorte. Um toque de feliz acaso. O motivo para eu lembrar disso é para não me sentir importante demais.”

Sabemos que o CEP de nascimento de um indivíduo não tem poder determinístico, mas exerce forte influencia. Não reconhecer isso é ser intelectualmente mal intencionado. Muitas pessoas contam com a sorte de estarem no local e no momento certo da história. Barack Obama é também uma decorrência  da luta de dezenas de ativistas políticos como Martin Luther King, John Lewis e Jesse Jackson. E o próprio Luther King contou com a ação inspiradora de Rosa Parks.

Lembrei-me do Brasil, onde muitos jovens talentosos não encontram espaço ou não se sentem a vontade no mundo político porque o sistema foi organizado para que eles não participem. No início o voto era permitido apenas para aqueles que possuíam terras. Havia o voto de cabresto. Demorou muitas décadas para que o direito de votar fosse ampliado para todos.

Obama ressalta que a conquista pelo direito de votar também aconteceu nos EUA. “Os EUA têm taxas de participação eleitoral especialmente baixas para uma democracia tão avançada. Em parte porque há leis que dificultam o processo de votação, ao invés de facilitá-lo, e isso é um resquício dos tempos em que pessoas que se pareciam comigo não deveriam votar”.

Muitos caciques políticos se acham insubstituíveis e não sabem a hora de passar o bastão para as novas gerações.

Por isso tenho dito há anos que não devemos reeleger ninguém. Isso pode não melhorar o nível de nossos congressistas, mas vai mostrar que eles trabalham para nós e não o contrário. Devemos apertar a tecla F5 na urna eletrônica e dar control+alt+del na história política dos atuais parlamentares.

A seguir tem uma explicação sobre a Fundação Obama.  A entrevista está disponível na Netflix. Boa reflexão.

Saiba mais:

Entrevista com Barack Obama – Fórum Cidadão Global

Discurso de Obama no Brasil – 2017 

P.S. Há um ano, na posse do “TRAMPALHÃO” escrevi um pouco sobre o legado de Barack Obama:

Com uma retórica invejável e grande carisma, Obama cumpriu seu papel de presidente da maior potência militar e econômica do mundo. Determinou o uso e abuso da tecnologia da informação, mandou invadir nossos e-mails, espionou seus amigos presidentes e decretou o uso de drones para eliminar seus alvos. Algumas vezes se desculpou pelos seus erros.  O que não traz as vidas de volta… Além disso, foi o fiador de um pacote de 700 bilhões de dólares  para salvar bancos e corporações. Bancos que agiram de forma irresponsável. Na hora de lucrar sem limites vale a máxima de não regulação da economia. Mas na hora da crise é preciso socializar os prejuízos. A população dos EUA pagou pelos erros e pela ganância dos “lobos de Wall Street“. O filme “Inside Job” conta um pouco dessa história.

Mas Obama será também lembrado pelos avanços sociais, pela inclusão de 20 milhões de norte-americanos aos Planos de Saúde, pela criação de novos empregos e pelos investimentos em energia limpa. Sua política externa foi marcada pelo compromisso de campanha de retirada das tropas norte-americanas do Iraque e do Afeganistão. Mas o resultado do vácuo de poder foi o surgimento do Estado Islâmico. Para aqueles que defendem a auto-determinação dos povos os EUA nem deveriam ter invadido o Iraque e Afeganistão. Uma vez destituídos os detentores do poder concentrado nesses países, milícias tomaram o controle. Mas não sejamos ingênuos. Antes também havia a tirania sob controle de algumas poucas famílias.  Não existe vácuo de poder

Mesmo sendo o primeiro presidente afro-americano, a tensão racial nos EUA não foi reduzida.  Seu exemplo e o de Michelle foram importantes, mas não suficientes para eliminar a ainda existente segregação racial. No filme A 13a emenda isso fica bem claro.

A ligação do ex-presidente com os “Lobos de Wall Street” e com os gigantes do Vale do Silício é seu calcanhar de aquiles. Não existe almoço grátis, ou melhor não existe santo na política, nem na brasileira e nem na norte-americana. Os grandes doadores de campanha são os verdadeiros donos do poder. Como alguém pode achar normal um candidato a vereador gastar um milhão para se eleger?  Ou um candidato a governador gastar 80 milhões de reais. Ou um candidato a presidente gastar 300 milhões de reais. Não existe almoço grátis. A conta é cobrada depois com juros e correção conforme bem demonstrou Marlon Reis em seu livro “Nobre Deputado“.

Atenciosamente,

Prof. Jesué Graciliano da Silva