Tempo bem gasto

Na semana passada tomei conhecimento do trabalho de Tristan Harris sobre o bom uso do tempo. Em linhas gerais ele afirma que os algorítimos de programação das redes sociais são construídos conscientemente para roubar cada vez mais o tempo livre das pessoas.

Há uma frase que me acompanha há muitos anos: “Tempo é uma questão de prioridade”. Ela foi dita muitas vezes pelo prof. Alvaro Prata durante as aulas de transferência de calor como forma de nos motivar a usar bem o tempo para o estudo. E sempre comentava: “Sempre encontramos tempo para aquilo que nos interessa de verdade. Se estamos com dor de dente vamos ao dentista, se estamos apaixonados arrumamos tempo para ver a pessoa amada e assim vai”.

O importante é saber quais são nossas prioridades. Diante da velocidade com que circulam as informações temos a sensação de que o tempo está mais acelerado. Pensem como era a vida há 100 anos. Era preciso escrever a carta com caneta tinteiro e esperar secar. Muitas vezes levava semanas para a carta ser recebida. E assim o fizeram grandes cientistas trocando correspondências para divulgar suas descobertas. O processo permitia que as palavras fossem escolhidas com cuidado. Cada palavra tem um uso específico. Era preciso conhecer sua etimologia.

O volume de informações disponíveis na internet cresce exponencialmente. Diante dessa situação nem sempre conseguimos como separar o joio do trigo. Há empresas especializadas em embaralhar as cartas, misturando notícias falsas junto com notícias verdadeiras. E ainda temos que lidar com as diferentes narrativas construídas por especialistas para distorcer a realidade. Mesmo pessoas bem formadas estão sujeitas a acreditar em notícias falsas porque tudo é construído para parecer real.

Parece-me que as pessoas estão se tornando cada vez mais ansiosas.  Relacionamentos se tornam fugazes. Não se vive o presente inteiramente.

Aquela frase do Dalai Lama resume bem esse sentimento.

“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido”

O que realmente é importante na nossa vida? Quais são nossas prioridades?  O filósofo e palestrante Mário Sérgio Cortella em seu livro “Qual a tua obra” nos pergunta: Será que quando morrermos faremos falta para alguém? E completa: “Importar é trazer para dentro do coração”.

Muitas vezes não conseguimos diferenciar o que é importante daquilo que é urgente.

Há algum tempo escrevi um texto mais detalhado sobre essas diferenças no livro Liderança Ética e Servidora

(disponível para download).

https://liderancaeticaeservidora.wordpress.com/capitulos-do-livro/tempo-uma-questao-de-prioridade/

Existe um princípio bem conhecido entre os administradores – Teoria de Pareto ou 80/20.  Para muitos fenômenos, 80% das consequências advêm de 20% das causas. Ou de forma mais simples podemos dizer ainda que:  se temos 100 atividades para fazer, provavelmente 20 delas farão realmente a diferença em nossas vidas.

A partir do autoconhecimento (Conhece-se a ti mesmo… Sócrates ) podemos encontrar tempo para realizar nossos sonhos. Se dizemos que não temos tempo para alguma coisa é porque na verdade ela não é tão IMPORTANTE assim.

E voltando ao Tristan Harris, sua fala deixa explícito que os aplicativos são construídos para competir pelo nosso tempo tal como as televisões o fazem. Tudo é uma questão de audiência, uma vez que o dinheiro vem dos anunciantes. A diferença é que os aplicativos sociais têm mais informações sobre seus usuários que os canais de televisão. As lojas de varejo também. Quando assistimos determinado filme no Netflix revelamos nossas preferências. Quando fazemos uma pesquisa no Google ou clicamos em uma publicação no Facebook deixamos rastros.

Por meio do software estatístico WOLFRAM é possível construir relatórios detalhados de nossa atividade nas redes sociais.

A mineração de dados (Big Data) está a serviço de jovens ambiciosos e que nem sempre têm experiência de vida para discernir o que é certo ou errado. O próprio Facebook foi criado utilizando-se de um banco de fotos obtido de forma irregular e a partir de uma atitude antiética, que expôs ao constrangimento milhares de mulheres. Como prêmio Zuckerberg tornou-se um dos homens mais ricos do mundo e um grande mau exemplo para jovens que querem trilhar o mesmo caminho: ficar ricos antes dos 30 custe o que custar.

Minha sugestão é que vocês assistam o vídeo TED abaixo, se tiverem tempo é claro. Se não assistirem não vão morrer por isso !

Podemos usar as redes sociais com moderação. Podemos esquecê-las por algum tempo e usar bem o tempo livre.

No site http://www.timewellspent.io/ há algumas dicas sobre o assunto.

Carpe Diem…

Atenciosamente,

Prof. Jesué Graciliano da Silva