A economia no nosso dia a dia…

O aprendizado dos princípios de economia pelos mais jovens não é apenas possível, mas fundamental. É preciso formar adultos responsáveis financeiramente. Entender como a economia está presente em nossas vidas é o primeiro passo.

https://jesuegraciliano.wordpress.com/2017/02/01/educacao-financeira-vem-de-casa/

Na sociedade de consumo, onde muitas vezes se valoriza mais o TER e não o SER, é importante aprender desde cedo o que pode e o que não pode ser comprado. Gosto de uma frase: “Tudo aquilo que pode ser comprado na verdade não tem valor”. O dinheiro tem o valor que atribuímos a ele. Há pessoas que são felizes com muito pouco. Enquanto outros passam a vida correndo atrás dele e não são felizes.

Dalai Lama, quando perguntado sobre o que mais lhe surpreendia na humanidade respondeu:

“Os homens … Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer… … e morrem como se nunca tivessem vivido”.

Desde que acordamos somos bombardeados por propagandas, elaboradas por profissionais da área de publicidade e propaganda. Ele sabem como ninguém explorar nossos medos, ansiedades e desejos mais escondidos. E usam a psicologia para manipular nossos desejos, criando necessidades que muitas vezes não temos. Para sair dessa armadilha é preciso que sejamos capazes de pensar criticamente.

Sócrates dizia há mais de 2 mil anos: “Conhece te a ti mesmo”. Quem não se conhece  de verdade acaba virando uma caricatura manipulada pelos profissionais de propaganda.

Para se conhecer é primeiro saber de onde viemos:

Meus pais migraram na década de 1950 de Serrinha – Bahia para Júlio de Mesquita – interior de São Paulo. A viagem durou 8 dias de caminhão.

Nasci em Marília em dezembro de 1969 e morei até os 6 anos em uma pequena cidade próxima – Júlio de Mesquita.  Ao todo somos em oito irmãos. Em 1976 minha família se mudou para Marília. Em Júlio de Mesquita morávamos em uma casa de madeira simples com piso de “barro batido”. Nosso colchão era de palha de milho. Minha família trabalhava como boias frias. Íamos junto com minha mãe e irmãs para a colheita de café. Saíamos bem cedinho e voltávamos no final da tarde.

A colheita do café foi responsável pela expansão da linha de ferro para o oeste paulista e criação de diversas cidades bem como distritos menores. A data de instalação de Marília é 4 de abril de 1929 – exatamente o ano da quebra da bolsa de Nova Iorque e quando o principal produto de exportação do país sofreu um grande golpe. Já Júlio de Mesquita foi emancipada em 1948. Atualmente o município, onde passei parte de minha infância, não tem mais de 4 mil habitantes.

Em 1975 houve uma grande geada na região, o que destruiu muitas plantações de café. Uma grande crise se abateu nas fazendas.  Meu irmão mais velho mudou-se então para a capital São Paulo para trabalhar na indústria. Ele voltava mensalmente nos visitar e contribuía com parte de seu salário com as contas da família. Um ano depois nos mudamos para a periferia de Marília.

Desde pequeno ouvia meu pai dizer que as crianças que economizavam conseguiriam comprar até uma casa quando cresciam. E essa foi minha maior lição de economia… É preciso poupar para realizar nossos sonhos.

Também lia muitas estórias em quadrinhos. Achava interessantes as histórias de como o Tio Patinhas ficou rico explorando ouro no velho oeste americano. A moedinha número 1, que levou a seu milhão mostrou me que até mesmo uma grande fortuna começa com 1 centavo. A conquista do oeste americano no final do século XIX fez grandes milionários.

Com 9 anos tive a experiência de receber meu primeiro salário produzindo balainhos de café para uma cooperativa que ficava do lado de casa. Sim, não havia restrição ao trabalho infantil e nem Estatuto da Criança e Adolescente.  Nessa época também me lembro de sair vendendo manga, laranja e limão que meu pai ocasionalmente trazia do sítio de seus amigos.

Aos 10 anos comecei a trabalhar no bar da família, criado pelo meu irmão mais velho, que retornou de São Paulo no ano de 1980.  Com seu FGTS e ajuda de meu pai foi possível começar um empreendimento familiar na frente da casa onde morávamos.

Passava a tarde toda e início da noite atrás de um balcão ajudando no atendimento, dando troco e fazendo minhas tarefas escolares. Foram 3 anos aprendendo economia na prática. Aprendi fazer contas rapidamente de cabeça. Havia outros bares nas outras esquinas, o que levava a concorrência. E a redução de preços era uma alternativa. Também ganhava alguns refrigerantes por desenhar a caricatura dos clientes. Acabava sendo divertido e educativo também. Aos domingos, as vezes acompanhava meu irmão que ia vender galos e galinhas na feira. Lá se comercializava de tudo. Conheci uma banca de sebo e quase sempre comprava um gibi do Batman ou Superman. Lia e revendia para outro amigo que também trabalhava no bar de seu pai na outra esquina. Sempre com uma pequena margem de lucro. E assim passei a ler cada vez mais porque era lucrativo.

E graças a um desenho do Batman, que fui descoberto como desenhista pelo gerente do Itaú – Moacir. Ele me indicou para um escritório de engenharia. Trabalhava inicialmente à tarde até que passei a estudar à noite e trabalhar o dia todo. Meu salário era de 5 mil cruzeiros. O salário mínimo era de 35 mil cruzeiros em 1983.  Meu apelido era Tostão, em referência ao meu pequeno salário. Aprendi a desenhar, a cuidar do escritório, a usar o computador TK 85 no almoço, quando não estava assistindo He Man. Levava uma marmita térmica para o trabalho. Todo salário era repassado para minha mãe, como era costume para ajudar nas despesas da casa.

Depois de ter aprendido algumas técnicas de desenho de perspectiva conheci um dos melhores desenhistas da cidade: Emílio Nagai.  A partir da indicação dele, em 1985 fui contratado com carteira assinada pela Construtora Yamashita e pela Arc Plus Arquitetura com um salário de 434 mil cruzeiros.  Entre os donos do escritório havia um casal de arquitetos formados em Zurique na Suíça que também possuíam uma fazenda de café. Tive oportunidade de visitar a fazenda deles e lá pude relembrar a minha infância.

Abri uma caderneta de poupança no Bradesco e depositava uma parte de meu salário. A outra parte repassava para minha mãe. O Bradesco foi um dos primeiros bancos a automatizar o atendimento com os caixas eletrônicos.  Trabalhava o dia todo e estudava a noite. E em muitos finais de semana fazia projetos de arquitetura para ampliar a renda. Nesse ritmo acabava não gastando muito.  Em 28 de fevereiro de 1986 veio o plano Cruzado e o congelamento de preços. A desvalorização da moeda aconteceria novamente quando o presidente Collor mudou a moeda para Cruzado Novo. Com a inflação alta, a poupança era corrigida. Minha conta no Bradesco era administrada com cuidado. E aos poucos fui tendo a perspectiva de poder pensar em fazer uma universidade, de preferência pública. Tinha algum dinheiro na poupança, havia ganho o prêmio de Aluno Padrão de minha escola. Tinha uma profissão que gostava. A escolha por um curso de engenharia não foi difícil.

Por indicação de alguns colegas e dos professores, decidi cursar a melhor engenharia mecânica do Brasil, na UFSC, segundo o Guia do Estudante. Nunca havia deixado o estado de São Paulo até então.

No segundo ano de engenharia, o então presidente  Collor confiscou os recursos depositados na poupança dos brasileiros. Esse fato prejudicou meu planejamento, obrigando-me a trabalhar durante todas as férias seguintes para me sustentar.

Arrumei um emprego em uma fábrica de móveis inicialmente. Depois comecei a fazer desenhos de arquitetura, que enviava pelos Correios para Marília.  Também fui bolsista de iniciação científica na área de energia solar e monitor de Geometria Descritiva, Termodinâmica e Transferência de Calor. Concluí o curso de Engenharia Mecânica após em 4 anos e meio. A falta de dinheiro obrigou-me a utilizar bem o meu tempo. Ao me formar um semestre antes do prazo normal pude participar do concurso público para professor da Escola Técnica Federal de Santa Catarina, que abriu um mês depois.

Passei de auxiliar de desenhista a professor de desenho de climatização em uma década (1983 – 1993). Ao longo de mais de duas décadas pude ajudar muitos estudantes a realizarem seus sonhos, inspirando-os a ultrapassarem seus limites. Limites da pobreza muitas vezes. Indiquei muitos alunos para seus primeiros empregos. Aprendi com prof. Alvaro Prata que somos limitados por nossa imaginação.

Ao seguir o conselho de meu pai, nunca gastei mais do que ganhei. Hoje cada vez mais compreendo que nossas escolhas são motivadas pelos custo de oportunidade. Quando escolhemos fazer algo, deixamos de fazer outra coisa. E quando decidimos poupar também escolhemos consumir menos no presente para usufruir de um futuro mais seguro. Mas temos que saber dosar e aproveitar a vida. Poupar demais também é um problema.

Atualmente vejo a necessidade de ensinar meus filhos e contribuir para que outros jovens aprendam a lidar com a educação financeira.

A migração de minha família de Serrinha para o interior de São Paulo em busca de trabalho na lavoura, a mudança de meu irmão para São Paulo, nossa migração de Julio de Mesquita para Marília em 1976 foram eventos motivados pela economia.

A figura mostra algumas cidades importantes em minha vida. São Gabriel é a cidade onde nasceu minha esposa. Serrinha meus pais e Florianópolis meus filhos. A Bahia foi capital do Brasil e liderou o ciclo econômico da cana de açúcar. A criação de Marília se deve à expansão cafeeira. São Gabriel, que foi capital da República do Rio Grande do Sul, era caminho dos tropeiros – que forneciam gado para viabilizar a logística necessária para o ciclo econômico do Ouro no Sudeste.

A disponibilidade de empregos em determinadas profissões ou em determinadas regiões, leva ao movimento migratório dentro do país.  No meu caso, a busca por um curso de graduação de primeira linha levou-me a migrar para Florianópolis. E por que havia um curso de engenharia mecânica desse nível em Santa Catarina e não em São Paulo, onde se tem o maior número de indústrias do país?  Para entender isso é preciso compreender a formação socioespacial catarinense. Santa Catarina é proporcionalmente um dos estados mais industrializados do país.

https://jesuegraciliano.wordpress.com/reflexoes/santa-catarina-passado-e-presente/

A economia tem um papel fundamental nas transformações pelas quais o país vem passando nas últimas décadas, inclusive na atual crise política e econômica. Tratei dessa questão em uma postagem anterior.

https://jesuegraciliano.wordpress.com/2016/08/31/aeconomiaexplica/

Saber fazer essa leitura é importante para saber que a história de vida de cada pessoa está ligada a história econômica do país, mesmo que ela não perceba isso.

Penso que ao compreendermos nossas origens e conhecer como a economia influencia nossas vidas é possível ser mais racional em nossas escolhas. Podemos planejar economicamente nosso futuro.

Quer saber mais? Então segue algumas dicas para estudo individual. Ao final tem algumas perguntinhas para estimular seu raciocínio econômico.

Atenciosamente,

Prof. Jesué Graciliano da Silva