O país que você quer e a realidade

Quando a campanha da Rede Globo “O país que você quer” foi lançada na semana passada incentivando os telespectadores gravarem vídeos de 15 segundos contando quais deveriam ser as prioridades do próximo presidente comecei a imaginar que tipo de vídeos seriam enviados:

“O Brasil precisa de educação, saúde e segurança para que nossos filhos tenham um futuro melhor. Precisa acabar com a roubalheira e com a corrupção”.

Esses vídeos, que mostrarão as expectativas cotidianas do eleitor médio, poderão ser muito úteis para a emissora. Até porque um dos seus Vingadores poderá ser candidato !

A maioria das pessoas não entende realmente de assuntos mais complexos como: “reforma tributária”, “pacto federativo”, “política cambial” e  “autonomia do Banco Central”. Sabemos que mais de 70% dos eleitores não concluiu o Ensino Médio. Isso não significa que muitas vezes não consigam compreender intuitivamente o que é certo ou errado. Mas a maioria é presa fácil para propostas populistas. Muitas vezes promessas não poderão ser cumpridas porque não há recursos para isso. Ou porque vão contra os interesses dos investidores internacionais e grandes empresas.

Na teoria os eleitores mais escolarizados deveriam ser capazes de fazer uma leitura mais crítica da realidade. Mas muitos também acabam sendo manipulados. As campanhas eleitorais são construídas por profissionais capazes de vender refrigeradores para esquimós. Esse processo foi detalhado em um livro escrito pelo marqueteiro Duda Mendonça – “Casos & Coisas”.

Há políticos que fazem uso de metáforas e até falam errado de propósito para que os eleitores menos escolarizados se sintam representados. Falam o que o povo quer ouvir*. Dizem que Jânio Quadros chegava a simular que estava com fome no palanque para conquistar a simpatia do eleitor. Comia um sanduíche e continuava discursando.

Também penso que não é coincidência que a Rede Globo coloque no ar uma novela das 7 chamada “Deus salve o Rei” falando de príncipes, princesas, heróis e vilões no ano eleitoral. Quem não se lembra que em 1989, quando o PMDB também era governo, foi lançada a novela “Que rei sou eu?”. Nela, Edson Celulari fez o papel do príncipe que salva o Reino de Avilã. Um mês depois do final da novela a população estava pronta para escolher seu príncipe nas urnas. Escolheu Fernando Collor – o caçador de marajás (funcionários públicos fantasmas de Alagoas). A maioria da população ignorou a trajetória e o currículo de grandes políticos como Mário Covas, Ulysses Guimarães e Leonel Brizola.

Interessante como Jean Pierre (o príncipe) fez um discurso parecido com o de Collor em seus comícios a presidência meses depois. “Vencemos MINHA GENTE – vamos RECONSTRUIR – instaurar a dignidade e a honra – vamos trazer justiça para os miseráveis…” Quem copiou quem ?

Em 1992, o seriado “Anos Rebeldes” também fez história. Será que também não influenciou o fenômeno “caras pintadas”?

O Brasil está carente de novas lideranças. Em quem acreditar quando todos parecem estar envolvidos em um mar de lama?  Aliás, determinados grupos políticos usam bem essa estratégia: destruir a honra de todos porque assim abre-se espaço para aqueles que se dizem “não políticos”, e que se apresentam como um  “salvador da pátria”.  Penso que deveríamos fazer um “control-alt-del” no sistema político.

Precisamos mesmo é apertar a tecla F5 (tecla do computador que atualiza o conteúdo de uma determinada página de internet) no dia da eleição. NÃO DEVERÍAMOS REELEGER NINGUÉM. Os bons parlamentares iriam entender.

Observação:  A tecla F5 na urna eleitoral acima é meramente ilustrativa.

Mas, provavelmente o cardápio que nos apresentarão será o pior possível. Iremos ao restaurante para comer salada, mas no cardápio só terá carne estragada.

Os partidos políticos têm donos. E alguns deles cobram bem caro para o uso da sigla pelos candidatos. Por isso é tão difícil ocorrer a renovação de verdade. O sistema é corrompido na partida.

Essa é a mensagem que recebi do colega Rangel:

“A Globo esta convocando a população a enviar vídeos de lugares bonitinhos ao fundo, no qual, você, arrumadinho, bem sorridente,  deverá dizer sobre o ” País que você quer”. E, assim, ela dá início a sua campanha política, cutucando os internautas a terem os seus 15 segundos de fama para montar a sua base, cheia de gente bonitinha em lugares bonitinhos. Que bonito, hein?
Peço aos vaidosos de plantão que não se deixem seduzir pelo chamamento á vaidade e façam muitos, mas muitos mesmo, muitos vídeos com o real cenário do que temos no momento, ou seja, lotem a caixa deles com as imagens dos hospitais  falindo, suas filas, e todas mazelas que não deveriam existir, inclusive a de desempregados. Mostrem o sucateamento da nossa polícia, de sua frota, dos seus equipamentos e armamento; A decadência do ensino e abandono das escolas. Mostrem  as imagens dos arrastões, dos assaltos, de toda a falta de segurança que temos. Mostrem as avenidas e ruas esburacadas, viadutos sem manutenção, ruas sem asfalto, iluminação, áreas alagadas, áreas em total abandono, esgoto a céu aberto, mendigos que povoam as ruas, preços exorbitantes, invasões de terras…  Enfim, tudo o que estamos vivendo, inclusive, o mau atendimento que temos daqueles que deveriam lembrar de que somos nós que pagamos o seu salário, é o mínimo que eles podem o oferecer é a educação no trato com as pessoas.
Vamos inverter o tema para o ” O país que eu não quero” e manda ver nos vídeos. Se eles querem cenas bonitinhas para fazerem as suas matérias, que façam sozinhos. Se é para o povo ajudar, que seja para mostrar o que eles não querem ver.”

*P.S. Quando vemos candidatos defendendo ideias conservadoras não estão mais do que repetindo o que milhões de brasileiros pensam em seu íntimo. Lembro-me da campanha do presidente TRAMPALHÃO americano. Todos o achavam um completo idiota. Mas ele repetiu exaustivamente o que o cidadão norte-americano médio queria ouvir. E se seus eleitores não conseguem entender a dinâmica da globalização, que tirou seus empregos, é importante ter alguém para colocar a culpa – os imigrantes. Melhor ainda se o governo confiscar os bens adquiridos por essas pessoas…Os nazistas fizeram algo parecido antes, não foi mesmo?

Atenciosamente,

Prof. Jesué Graciliano da Silva